segunda-feira, 8 de março de 2010

Cansei

Cansei
De ver a mentira travestida de verdade
Do cinismo metálico
Do poder estalando na língua dos políticos
Cansei
Da estupidez conformada
Da massa deformada
Da celebridade inventada
Cansei
Da inversão assentada
Da conformidade medíocre
Da apatia em nome de Deus
Cansei
Da indústria da miséria
Dos políticos depravados
De suas caras sofismando na TV
Cansei
Da juventude forjada
Das expressões de matéria plástica
Das risadas suturadas
Cansei
Da pobreza das almas
Dos herois de araque
Dos sons repetitivos dos atabaques
Cansei
De dia das mulheres
De ilusão em migalhas
De cegueira generalizada
Cansei
Do culto à magreza
Dos músculos anabolizados
De um hedonismo sem prazer
Cansei
Da transferência de responsabilidades
Da farsa togada em corpos da lei
Dos votos disfarçados de democracia
Cansei
Dos caudilhos da América colonizada
Das metrópoles expatriadas
Da vulgaridade dos crentes
Cansei
Da lógica que premia os sofistas do mal
Das pizzas guardiãs da impunidade
Dos mensaleiros e mensalões
Cansei
Dos neologismos carentes de juízo
Da inútil sina da verdade
Das repetições com defeito
Cansei da pobreza das ideias
E das máscaras cortadas a bisturi.

Virgínia Heine

2 comentários:

  1. Carla, que bom que você gostou. Como não nos conhecemos, mas parecemos próximas (coisas da poesia), fui olhar seu blog. E lá descobri um texo intenso e doce. Gostei imensamente. Resolvi postar um comentário, que não sei se será publicado ou se se perdeu. Tive a grata satisfação de ver que, além da poesia e dos blogs, temos em comum o conhecimento do mais que super querido João.
    Bjs

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