domingo, 21 de julho de 2013

Passinhos rápidos



Dentinhos à mostra num sorriso
Música mais bonita
Brisa que corre do mar azul turquesa
Passinhos recém aprendidos
Correm brincando de esconde-esconde
Corpinho colado num abraço balançando
No meu colo sinto o mundo parar
Ritmo em botão de flor se abrindo
Numa manhã de sol nascendo
Olhinhos docemente profundos
Curiosa inocência nos dedinhos certeiros
Reflexo dourados nas águas que cantam
Montanha abaixo numa fonte
Pura vida. 

 

 

Ilusão

O tempo desliza apressado
Finge que faz esquecer
O ritmo das horas corridas
Vai criando a ilusão
- Vai abrandar!
Penso ansiosa
Não abranda
Conforma
A vida avança nos dias
Meses vão Saudade volta
No rádio de repente
Toca a música
Rolos de memória dormindo
No fundo da dor fingida de morta
Traz o gosto do que um dia
Foi vida vivida de um amor
Que talvez não se soubesse.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Melado

A vida inteira guardada em cascatas de antigamente,
Sabor de rapadura derretida em melado agreste,
Um passo de dança parado em saltos de memória,
Ao mínimo movimento de olhos cerrados.
Um filme com aroma de música adocicando o tempo,
E o coração salta aprisionado em lembranças.
Projetos oníricos suavizam medos antecipados,
Um leve gosto de casa cheia no sorriso de meu pai.

Virgínia Heine

Esmeril

Sinto saudades de mim.
A desistência é a incredulidade
Estampada na apatia sem cor.
Pedaços de crenças caídas no chão
Em estilhaços de memórias
Partidas no espelho quebrado.
Sonhos escondidos no reflexo
Fissurado dos pedaços disformes.
Onde está o esmeril dos desejos
Perdido na excitação do tempo deixado para trás?


Virgínia Heine

segunda-feira, 8 de março de 2010

Nietzsche

"A vantagem de ter péssima memória é divertir-se muitas vezes com as mesmas coisas boas como se fosse a primeira vez."

Cansei

Cansei
De ver a mentira travestida de verdade
Do cinismo metálico
Do poder estalando na língua dos políticos
Cansei
Da estupidez conformada
Da massa deformada
Da celebridade inventada
Cansei
Da inversão assentada
Da conformidade medíocre
Da apatia em nome de Deus
Cansei
Da indústria da miséria
Dos políticos depravados
De suas caras sofismando na TV
Cansei
Da juventude forjada
Das expressões de matéria plástica
Das risadas suturadas
Cansei
Da pobreza das almas
Dos herois de araque
Dos sons repetitivos dos atabaques
Cansei
De dia das mulheres
De ilusão em migalhas
De cegueira generalizada
Cansei
Do culto à magreza
Dos músculos anabolizados
De um hedonismo sem prazer
Cansei
Da transferência de responsabilidades
Da farsa togada em corpos da lei
Dos votos disfarçados de democracia
Cansei
Dos caudilhos da América colonizada
Das metrópoles expatriadas
Da vulgaridade dos crentes
Cansei
Da lógica que premia os sofistas do mal
Das pizzas guardiãs da impunidade
Dos mensaleiros e mensalões
Cansei
Dos neologismos carentes de juízo
Da inútil sina da verdade
Das repetições com defeito
Cansei da pobreza das ideias
E das máscaras cortadas a bisturi.

Virgínia Heine

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Marés

Quando o tempo ousa perceber
As mudanças das marés
Sensações se dispersam
No rastro de novos sonhos
Então tudo o que está preso
Se descola de velhas medidas
Reinventando movimentos
De caleidoscópios distintos
Quase cheios de formas
Que se agitam e se perdem
Nas cores de memórias distantes.

Virgínia Heine